domingo, 1 de junho de 2008

Em Busca de Olívia - Parte I - Daniel Pedrosa

Alta, magra, dona de seios fartos, que faria qualquer homem se perder completamente em apenas uma noite, olhos verde esmeralda, que reluziam ardentes como o verão e encantavam a todos. Foi assim que eu criei Olívia. A mais bela das personagens que já havia criado. O desejo tomava conta de meus dedos sempre que eu começava a escrever sobre ela. Olívia, a mais bela das putas. Como eu a desejava.

Apesar de ter escolhido viver uma vida casta, histórias sobre prostitutas, profissionais do sexo, putas ou seja lá como você as chamam, sempre me agradaram. E muito.

O que é proibido sempre atraí. É isso que dizem.

Escrever histórias sobre elas era apenas uma das formas de me libertar, de colocar para fora todos os meus desejos mais profundos e mundanos.

Mas aquilo já não me bastava. Quanto mais escrevia, mais aquele impulso infernal me tomava. "Em mim sabereis a verdade", dizia nosso salvador, após resistir bravamente às tentações de Satanás no vago deserto cinza. Eu queria tocá-la. Eu queria possuí-la, assim como todos aqueles personagens bastardos que eu havia criado o fizeram.

Procuro a minha Olívia desde então, todos os domingos, na página nove dos classificados, como se me atirasse na areia cinza do deserto das tentações, queimando minha alma em um inferno do qual não poderia escapar.

Há sete dias, encontrei um anúncio que descrevia uma dessas mulheres, exatamente como a minha Olívia. Seu nome era Vanessa, mas isso eu poderia mudar. Minhas mãos começaram a tremer e não pude resistir, liguei. Não me espantei com a facilidade de conseguir um encontro, logicamente, em um lugar escolhido por mim.

Fizemos sexo como se fosse a última noite de nossas vidas. Mas ela não era a minha Olívia. Era Vanessa. Apenas mais uma puta, vagabunda e mentirosa. Seus olhos verdes eram mais falsos que os seus gemidos de prazer. Sua pele era áspera e o seu perfume não chegava nem a ser uma imitação barata do que havia imaginado.

A envolvi suavemente em meus braços quentes, ainda suados. Ela sorriu mais uma vez, falsamente. Rezo a Deus que ela não tenha sentido nem uma dor quando torci o seu pescoço, em um movimento único e preciso, quase romântico. Ela não tinha culpa de não ser perfeita e pagou um preço alto por mentir. Não pude fechar seus olhos antes de queimá-los com seus próprios cigarros, um deles ainda aceso.

Junto com aquele cigarro, mais uma vida inútil havia se apagado.
Olívia nunca mentiria para mim. Nunca.

Liguei o rádio. Uma música melancólica começou a atravessar o meu coração como uma espada em brasa. As notas eram compatíveis com os movimentos do meu serrote, cortando e dilacerando, membro a membro daquilo que um dia fora uma mulher. Como era lindo observar as gotas de chuva caindo sobre o vidro da janela ainda embaçado, compatíveis com as gotas de sangue que escorriam por entre os meus dedos e pousavam suavemente na superfície lisa do assoalho.

A melancolia consumia meu corpo enquanto eu continuava a me indagar onde estaria a minha Olívia.

Será que eu a encontraria para contar em seus graciosos ouvidos as mais belas histórias? Como eu a desejava.

Nenhum comentário: