domingo, 11 de maio de 2008

Tradição de Matilha - Parte I - Daniel Pedrosa

- Mas o que você fez Dário? - Perguntava incrédulo o líder da matilha de tigres brancos, Arísis.
- Você queria o quê? Que comesse algum de nós? - Respondia ofegante, com os lábios úmidos de sangue humano.

A matilha dos nove tigres brancos tinha uma lei em que comer carne humana era proibido. Não por compaixão e nem para protegê-los, mas para não serem contaminados com sua bestialidade.
Dário era o tigre mais frio, calado e dono de uma personalidade sombria como uma reflexão na madrugada. Porém, queria se aventurar e conhecer além do território dos nove.

Iúna, esposa de Arísis, o líder, também ardia nesta vontade, mas era obediente as ordens do sábio marido.

- Estarei de olho em você Dário. E qualquer mudança de comportamento, você será banido! - Rosnava irritadiço o líder de olhos bicolores, um azul e o outro verde.
- Espere Arísis. Ao menos deixe Dário se explicar.
- Explicar o que Manáz? Não sou supersticioso! Acredito nisso porque eu vi!

Manáz era conselheiro do líder Arísis. Calmo, paciente e meditativo. Porém, um guerreiro nato se necessário.

Dário estava ficando impaciente. Ele segurava uma raiva estarrecedora por estar sendo julgado, mas sabia disfarçar com maestria. Afinal, não podia dar motivos a mais, para seu carrasco líder prosseguir com seus argumentos.

Manáz caminhou elegante até Arísis, e com seus olhos azuis semelhantes ao oceano refletindo a manhã, e indagou-o sabiamente.

- Meu líder. Apesar de tudo, para qualquer um de nós sempre haverá um motivo para todo comportamento. Não nos custa ouvi-lo.

Arísis respirou fundo acalmando-se. Expirou vagarosamente e relaxou sua face, mudando bruscamente sua expressão.

- Por hoje chega. Vamos voltar... Mas converso a sós com você amanhã, Dário.
- Sim senhor, obrigado. - Respondeu Dário fixando seu olhar em Iúna.

Os nove tigres retornavam ao seu território em silêncio. O ambiente emocional era tenso, todos calados, tímidos e, sobretudo receosos ao líder que expressava terrível seriedade.

Quando chegaram, o sol já havia se posto. Era madrugada azul escura, iluminada pela lua cheia. Arísis contemplava a lua em cima de uma rocha média.

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