domingo, 18 de maio de 2008

A Resistência - Parte I - Renato Seabra

É quase uma hora da manhã quando um casal está andando por uma rua bem iluminada da cidade. O problema é realmente a boa iluminação, devido à facilidade que os bandidos encontravam para fazer seus assaltos. A polícia não passava com muita freqüência por ali, sendo uma região quase que fora do mapa.

O casal sabe que não pode fazer muito barulho. Mas de repente, o marido começa a agredir a mulher após esta simplesmente parecer ter feito uma brincadeira de mau gosto. O homem bate nela até derrubá-la ao chão.

O que é de destaque nesta rua é a vista até um apartamento muito bonito que fica do outro lado. E o que o casal não sabe é que estão sendo observados do nono andar por uma pessoa.

Qualquer um que passava por ali podia ver o que estava acontecendo. Não há muitos prédios ao redor que impeça a visão. As pessoas que passavam de carro ou de moto por ali simplesmente ignoravam a situação. Indiferença é a única coisa que bloqueia a visão das pessoas mais do que qualquer outra coisa.

A pessoa que está espionando diz a si mesma que "Esse vai morrer..."

O marido, que espancava sua mulher, saca uma faca e ameaça cortar seu pescoço. Ela grita por socorro.

Somente um disparo. Direto na cabeça. Pega em cheio o cara. Este cai morto sem o mínimo de reação, senão por algumas contrações de seus dedos tentando, inutilmente, segurar sua faca como se segurasse a um rosário, clamando por Deus para continuar vivendo.

A mulher tenta entender como aquilo aconteceu, mas se desespera e sem saber o que fazer, sai correndo. Um pano amarelo é jogado pela janela e suavemente vai descendo seguindo uma corrente de ar fria até chegar ao chão.

O cara do prédio pega seu celular e liga para a polícia, falando para eles fazerem uma visita perto do hotel, devido a ter acontecido um assassinato e desliga.

Uma hora depois o corpo é levado, mas ninguém sabe explicar o que houve. Pelo menos era o que alguém pensava ou esperava que alguém pensasse assim.

Num bar, com alguns bancos de couro, boa luz, garçom no meio de todos e algumas garçonetes andando e entregando alguns pedidos, há um cara sentado quase no meio das mesas. Está bebendo alguma coisa que ele está cobrindo com as mãos.

Tem roupas normais como de todos, exceto por seu casaco antigo, longo e preto e uma bota estranhamente enorme, parecendo feita puramente de borracha. "É óbvio que está escondendo alguma coisa." É a primeira impressão que ele passa para qualquer pessoa. Esse cara se chama Benjamim.

Ele está muito calmo. Parece ser assim no seu dia a dia.

Sem ao menos mover o rosto, percebe uma mulher chegar até ele. Ela está vestindo um vestido muito curto, amarelo chamativo. É morena e está muito maquiada. Ela tem cabelos grandes num estilo anos 80. Seu rosto parece estar um pouco inchado.

Ela pisca pra ele, ao que o faz balançar a cabeça querendo dizer que entendeu o recado. Ao olhar para o garçom, este logo volta a trabalhar, pois estava prestando atenção ao que acontecia naquele momento.

Benjamin termina sua bebida. Uma garçonete passa por ali e recolhe seu copo, rebola seu corpo. Ele a observa atentamente, mas sem muito tempo para brincar agora, se levanta e vai embora.

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