sexta-feira, 25 de abril de 2008

A Carta Perdida - Parte I - Paulo Costa

Uma carta. Nada mais do que uma simples carta, velha e amarelada. Não que esperasse algo de sua miserável mãe, mas se espantou ao receber uma carta, endereçada e selada, como herança. Não havia nem sequer o nome do destinatário, se era homem ou mulher e apesar do desgaste sofrido pela tinta azulada, dava-se para ler perfeitamente o endereço, conhecia aquela grafia floreada muito bem, recebera milhares de cartas da mãe desde que a deixara há alguns anos. Entretanto, nunca abrira alguma delas, preferira deixar para trás o seu passado e começar uma vida nova, da maneira como havia escolhido. Solitário.

Não sentia curiosidade alguma sobre o conteúdo da carta em si, mas sim, sobre o destinatário. Não conseguia entender, não ali naquele momento, porque sua mãe escreveria uma carta, a endereçaria e logo em seguida, a guardaria, para que fosse encontrada apenas algum tempo depois de sua morte. Talvez, como último desejo, quisera sua falecida mãe, que seu único filho, fizesse o favor de finalmente entregar esta carta para o não citado, destinatário.

Inconscientemente, ao pressionar o seu dedo indicador na tentativa de quebrar o lacre vermelho feito com cera, como nos velhos tempos, uma violenta dor de cabeça, súbita como chuvas de verão, fez com que deixasse a carta cair, para que tentasse se apoiar em algum dos poucos móveis que restaram na velha casa de sua mãe. Levantou a cabeça, tentando entender o que havia acontecido, sem perceber que o móvel onde estava apoiado, antes coberto por um pano empoeirado, estava agora à mostra, um velho piano, já não tão charmoso como nos velhos tempos, mas ainda elegante. Sentiu seu estômago revirar ao se lembrar das tardes em que passara naquele velho piano. Ofegante, afastou-se e procurou apoio em uma das paredes laterais de um longo corredor. Lembranças de sua infância há muito esquecidas, voltaram como um choque, aterrorizante e impiedoso. Sentia que precisava sair daquela casa imediatamente. Sabia que retornar àquele lugar só lhe traria mais dor e sofrimento, e isso, já não fazia mais parte dos sentimentos que estava acostumado a sentir vivendo longe dali. Seguiu em direção à porta, mas não antes de pegar a velha carta e guardá-la com segurança em um dos bolsos do seu casaco. Iria até aquele endereço, estava mais decidido do que jamais estivera. Encontraria o destinatário a todo custo e se livraria de uma vez deste doloroso encargo. Não poderia simplesmente deixar a carta ali, no chão. Algo estava fazendo com que ele se sentisse obrigado a cumprir tal tarefa. Deu seus últimos passos no estreito corredor, sem olhar para trás, abriu a porta e saiu, deixando para trás somente a poeira do que um dia fora o seu lar.

2 comentários:

Unknown disse...

Eu querooooooooooo ler o resto! :(
posta logo..rsrsrs
ta com mto gostinhu de quero mais, e vai me matar do coração! ^^
Mais ta mto bom, vc é mto talentoso Paulo Costa! ^^

Bjuss querido sucesso ao stúdio tela branca!

Anônimo disse...

Este conto têm cinco partes!
Que bom que gostou e está ansiosa por mais! Fico feliz!

Logo, logo!

;D

P.