Numa rua chamada Trinta e três, na casa 52, mora um casal com alguns problemas. Não possuem filhos. Não possuem família. Não possuem amigos. Enfim, não possuem ninguém. Eles moram nesta casa, que é considerada uma das melhores da região. Possui um cômodo enorme que coube a cozinha, o quarto e o banheiro. Tudo é separado por velhas cortinas, sem o mínimo de privacidade. Poucos nessa rua tiveram esse privilégio. Motivo de inveja para a maioria. E isso, também, motivo de medo para continuarem por lá. Como é de se pensar eles passam muitas necessidades. O marido não trabalha e a mulher teve de se prostituir para conseguir dinheiro. Não que foi difícil para ela. Bonita, e elegante quando precisa, conquistou homens de quase toda a cidade, de muitas classes sociais. Ela se chama Kelly. Ele se chama Elias. Este casal não conhece paz há muito tempo, pois Elias tem se envolvido com traficantes e bandidos de todos os lados tentando encontrar uma saída para seus problemas financeiros. Enquanto isso, Kelly ia se envolvendo com homens da mesma linha, e cada vez de gangues mais pesadas. O que preocupava Elias, por ter dívidas altas com todos eles e nem com a vida conseguiria pagar. Kelly e Elias não misturam seus negócios, o que deixa Elias irritado, por mais que ele saiba que ela está certa. Ele não aceita o comportamento dela e sempre que ela volta do trabalho, não importa com qual quantia de dinheiro, ele a insulta e algumas vezes a agride fisicamente. A intensidade das agressões vem crescendo e o ódio de Kelly acompanha como numa linha paralela. Sempre que isso acontece, ele fuma, bebe muito e ela se droga para ignorar as dores, físicas e psicológicas. Para piorar para Elias, Kelly começa a ser obrigada a levar clientes para sua própria casa. Eles alegavam que suas mulheres desconfiavam de tudo e poderiam haver testemunhas se fossem a algum lugar específico. Claro que gastos com motéis, que eles não tinham mais desde aquele dia não iam para Kelly, ela não era tão valorizada assim. A casa deles então começou a ser muito vigiada, e as agressões de Elias também. Ele já não podia agredi-la tanto, pois alguns clientes estavam de olho nisso e poderiam facilmente matá-lo. Elias decide dar uma volta pela cidade numa manhã. Conversa com alguns de seus colegas de gangue sobre o que planejam fazer para conseguir dinheiro. Todos estão perdidos. Não sabem o que fazer. Um deles, com o diferencial de ser esperto, chamado Enrique, conversa a sós com Elias e diz estar fazendo um plano para assaltar o banco central da cidade, apenas precisa juntar com mais bandidos de outras gangues. Não que Elias fosse a mais alta voz ali da gangue. Na verdade, não fez muita diferença sua decisão após três semanas. Enrique conversava a sós com todos sempre que podia. Elias passa toda aquela tarde com seus colegas discutindo muitas coisas, fumando e bebendo. Enquanto isso, Kelly se encontrava em sua casa com um de seus principais clientes chamado Gabriel. Elias deve muito dinheiro a ele. Sorte não estar nem por perto naquela hora. Os dois se divertem a tarde toda. Diferente de muitos clientes, Gabriel passa para Kelly muita segurança e cuidado. Não a maltrata nunca. Adora dar presentes pra ela. Talvez por ter dinheiro de sobra, graças ao tráfico de drogas e outros serviços oferecidos por ele como espionagem, assaltos, homicídios, liberação de prisioneiros e tantos outros mais. Gabriel se despede dela deixando o pagamento do dia e drogas. Ele faz uma ligação de seu celular enquanto dirige seu carro. Elias volta para sua casa. Ao abrir a porta, a primeira coisa que ele enxerga é a televisão no meio da sala, ligada e num canal fora do ar e mudo. Ao dar alguns passos a mais ele vê roupas da Kelly espalhadas pelo chão e logo se depara com ela ali estirada sem roupa, com seu corpo totalmente exposto. Elias não entende o que é aquilo e entra lentamente.
- É impossível, Enrique!
- Não é!
- Claro que é! Nossa gangue só tem diminuído! Você sabe disso!
- Eu sei, eu sei! Mas pense! Seria um motivo em comum! Para qualquer um interessa roubar aquela droga de banco! Por que você acha que nunca deu certo? Todos vão lá sedentos por dinheiro e em pouco número. Todos morreram ou foram presos!
- Mas é claro! A segurança ali é máxima!
- Sim, mas imagina todas as gangues juntas! Todas juntas!
- É muito arriscado. Na hora de repartir o dinheiro aconteceria uma guerra!
- Não. Não aconteceria! Poderíamos colocar o Gabriel e Igor nessa jogada.
- Está louco? Eu devo dinheiro para esse cara! Sem chance!
- Pois é, meu velho! Você, ali no meio, seria uma garantia e um motivo para ele participar! Pense bem!
- Não sei não... Vou pensar sobre isso e te falo depois.
- Igor? Tudo certo para você resolver aquilo?
- Claro! Não se preocupe. Está tudo no caminho.
- Que bom... Ligue-me assim que possível então.
- Sem problemas.
- Mas o que houve aqui? - Elias pergunta.
terça-feira, 29 de abril de 2008
Mudanças de Vida - Parte I - Renato Seabra
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Um comentário:
Uhulll!! Adoro!
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