domingo, 27 de abril de 2008

A Carta Perdida - Parte III - Paulo Costa

Após algumas quadras, a escuridão já tomava conta das ruas, iluminadas apenas por antigas lâmpadas que balançavam suavemente, produzindo em uníssono, uma orquestra regida pelo vento onde os instrumentistas nada mais eram do que correntes enferrujadas.

Estava perto, poderia afirmar, sentia uma estranha energia o puxando até ali, já que nunca estivera naquela parte da cidade antes e fora guiado por instinto, sem nem ao menos um mapa para consulta. Avistou um antigo prédio baixo, de quatro andares e janelas simetricamente quadradas. Aproximou-se de sua fachada em tons de marrom, corroídos pelo tempo e checou os números escritos no envelope com os que estavam cravados na escura placa de metal, logo acima da porta principal. Os números estavam corretos, a carta deveria ser entregue neste prédio. Subiu os únicos três degraus até a porta principal e a abriu, sem nenhuma resistência.

As divisões do prédio eram bem simples, uma escada estreita e escura, alinhada com a porta de entrada e quatro apartamentos por andar, numerados objetivamente. Estava à procura do numero nove, o que tudo indicava que precisaria subir até o terceiro andar. Seguiu rumo à escada. O lugar parecia estar prestes a cair, o papel de parede, ou pelo menos o que sobrara dele, não aparentava ter menos de quarenta anos. Em meio à escuridão das escadas, procurou tomar o máximo de cuidado para não fazer nenhum barulho, pois haviam garrafas vazias e vários objetos jogados nos degraus.

Finalmente chegara ao terceiro piso, em busca do número nove. As luzes deste andar pareciam não funcionar a muito tempo, apenas uma estava acessa corretamente e outras duas piscavam incessantemente, como se estivessem sido forçadas a trabalhar.

Ali estava, o número nove. A única porta sem número, apenas uma marca do lugar onde um dia abrigara um reluzente numero nove forjado em ferro. Aproximou-se da porta, respirou fundo e bateu levemente, três vezes. A ansiedade começou a tomar conta do seu corpo, fazendo com que apertasse a carta cada vez mais forte. Não obteve resposta alguma, resolveu checar a maçaneta. Girou-a devagar, não queria fazer barulho e ser confundido com um ladrão qualquer, as coisas poderiam acabar mal. A porta estava destrancada. Pensou por um segundo, se seria certo abrir a porta da casa de alguém sem permissão, então sua mão foi tomada pelo impulso e a abriu, bem lentamente.

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