sábado, 21 de junho de 2008

Teaser - Contos de Sangue

Finalizado então aqui a primeira edição de vídeo com foco no "Contos de Sangue".

Mais vídeos e curtas-metragens em torno do "Contos de Sangue" surgirão para que vocês possam sentir cada palavra expressa em alguns dos contos.

Esperamos que gostem e obrigado àqueles que acompanharam até agora.

Confiram então aqui neste link:
http://youtube.com/watch?v=es82PyP3rvU

-- Estúdio Tela Branca

sábado, 7 de junho de 2008

Em Busca de Olívia - Carta ao Leitor - Daniel Pedrosa


Caro leitor, aqui estamos, em frente à uma, ironicamente, TELA BRANCA, tentando de alguma forma, dizer o quanto foi prazeroso para nós, desenvolvermos a personalidade do personagem deste conto e escrevê-lo em dupla.

Inicialmente, nos baseamos em um amigo em comum, que deu o "ponta pé" inicial para o desenrolar do conto.

A dinâmica do trabalho se estendeu a tal ponto que, o personagem tomou uma forma ainda mais monstruosa do que havíamos idealizado.

O trabalho foi alvo de várias discussões entre os membros do blog, por conta do conteúdo estar se tornando mais pesado e enfim...

Mas, apesar de tudo, mais um trabalho foi concluído e postado.

Agora, gostaríamos de agradecê-los pela participação no blog, como sempre.

Continuem acompanhando, que muito mais está por vir!!!!

-- Daniel Pedrosa

-- Paulo Costa


Em Busca de Olívia - Parte III - Daniel Pedrosa

Eu sempre fui um rapaz precavido, mesmo apaixonado, totalmente crédulo nessa fantasia macabra, desconfiava que pudesse me deparar com a decepção.

Foi por isso que trouxe uma ferramenta comprada e incrementada pelo mercado negro, onde sadismo é uma palavra comparada à diversão.

Com meu "brinquedo" e um dinheiro "extra", ganhei mais uma hora de diversão com ela.

Tirando proveito do meu jeito meigo, ingênuo e puro, pedi para que ela realizasse um último desejo meu. Com muita carícia e muita malícia, não demorou para que ela estivesse amarrada com suas belas e brilhantes pernas consideravelmente abertas para mim. Conferi para que estivesse bem presa e não escapasse.

Amordacei-a de tal forma, que deu para sentir um estralo em seu maxilar! No local onde estou com ela, pode se fazer muito barulho, ninguém notaria, mas essa puta vulgar, que tem prazer em realizar seu ofício, não teria direito a nem um grito.

Como uma aberração dessas ousa se camuflar de minha Olívia?

O "brinquedinho" que por sinal não mostrei a ela, deixei que a mesma contemplasse e me deliciasse com seu desespero estarrecedor.

E lá estava eu diante dela vestindo um cilício peniano, dotado com lâminas enormes, afiadíssimo, pronto para cortar qualquer pedaço de pele ao menor contato.

Ela se contorcia com imenso pavor, e seus gritos abafados pela mordaça se tornavam rosnados de agonia.

Lá estava sua genital aberta, balançando com seus desesperados movimentos, e a chama do sexo bestial, vingativo, intolerável e sangrento possuía meu ser.

Brinquei um pouco, sem machucá-la, estava me divertindo com seu medo e desequilibro.

Sem perceber já estava em cima dela, pronto para penetrá-la, tamanha força o ódio me dera que segurava a puta com grande facilidade.

O primeiro corte tinha que ser devagar, saboroso, como um casal de adolescentes românticos fazendo amor pela primeira vez.

Escorreguei sem dificuldade alguma pra dentro dela, a mercadoria era realmente de boa qualidade, deslizei dentro dela como se cortasse seda.

Seu rosnado abafado era sem dúvida o mais sofrido. Sua face ficou vermelha, com veias saltadas em sua têmpora, seguido de um par de olhos totalmente lacrimejantes.

Podia sentir seu sangue quente, escorrendo e espirrando em mim. A segunda penetração não foi de toda rápida, porém mais profunda.

Sua boca começou a espumar pela mordaça, seus olhos torciam e seus rosnados começaram a ter um som distorcido, como um gemido entorpecido.

O prazer aumentou de maneira drástica ao ver tamanha cena, me empolguei a tal ponto, que a penetrava cada vez mais forte. Mais rápido.

Quanto mais agia, mais queria. Era insaciável. O sangue passou a espirrar de forma descontrolada, seu corpo nem apresentava mais resistência, simplesmente sacudia com meu balanço, junto ao pouco de vida que lhe restava.

Enfim... Quando alcancei meu orgasmo ela já estava morta, e o meio de suas pernas apresentava uma obra de arte maquiavélica, uma cavidade de tamanho e profundidade horrendos, que mostrava o lado oposto de Deus.

Agora estou aqui satisfeito ao realizar mais uma grande obra, deitado aos pés de nossa cama, saboreando a essência de seu corpo, me alimentando do fluido que um dia lhe deu vida, a cada gota que escorre em meus lábios, me conheço mais, e descubro minha verdadeira compulsão.

Sei que jamais vou encontrar minha amada Olívia, minha musa, minha inspiração e vida. Porém entreguei-me a procurá-la e fazer justiça em cima das vadias que sujam seu nome, sua imagem, minha cria.

Afinal, o que é vida senão um ideal, um conjunto de opiniões e conceitos que compõem você em busca de um incansável objetivo?

Talvez valha a pena buscar, mesmo que não encontre o resultado que anseia, a jornada é o sentido da vida.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Em Busca de Olívia - Parte II - Daniel Pedrosa

Hoje de manhã lá estava eu novamente. A espera do primeiro jornal da manhã de domingo. Abri mais uma vez a página de classificados, que parecia mais e mais familiar. Não pude acreditar quando li seu nome em meio a tantos outros.

"Se o que precisa é relaxar, extravasar e se livrar das garras do casamento, Olívia pode ajudar você. Loira, olhos verdes, um metro e setenta e seis de altura, sessenta e oito quilos, seios deliciosos e muito, mais muito prazer."
(01) 9714 - 3497.

Liguei a primeira vez, a segunda e tudo o que escutei foi o som automático de ocupado. Meu coração acelerou. Finalmente a voz do outro lado da linha me trouxe de volta a realidade. Sua voz era tão doce quanto o som emitido por uma lira. Combinei o local. Teria o domingo mais maravilhoso de toda a minha vida. Arrumei-me como nunca havia feito, só para ela.

Olívia, minha Olívia. Pensei. Havia chegado a hora de tirá-la dessa vida demoníaca que o infame destino reservou para você, e protegê-la em meus braços, para todo o sempre.

No mesmo local que libertei o mundo de uma mentirosa, estava preparado para a chegada de Olívia.

A certeza de ser ela, a busca que alimentava a minha alma, aumentava a cada minuto e às nove horas da noite em ponto lá estava ela, na porta do local combinado.

Seu cabelo loiro, ondulado e perfumado passava um pouco dos ombros, possuía um jeito único e especial de olhar como se ela tivesse interpretando meus textos.

Seus olhos brilhavam, juntamente com o colante vermelho vinho que vestia, o vento batia levemente em seu rosto destacando sua figura.

Meu coração ordenava para que eu me declarasse naquele instante, foi difícil me conter.

Ela foi muito direta com a ocasião. Ainda lembro do seu jeito ríspido a primeira vista. "E então, vamos subir?"

Tive que compreender, não deve ser nada fácil praticar este ofício. Sem demora ou enrolação a convidei para subir.

Ela andava rápido, parecia estar com pressa, não entendi, pensei que talvez estivesse assustada.

Ao chegarmos ao quarto lancei-lhe alguns galanteios, a tratava como a se fosse a pessoa mais importante e graciosa do mundo, pois ela assim o era.

Sua emoção não mudou, simplesmente encarou como se eu fosse mais um novato apaixonado, e dizendo que eu precisava de um "atropelo", lançou-me com habilidade maestral na cama, com suas carícias, seus toques, e sua língua, que em conjunto com sua boca formavam um grupo de estimulantes sexuais dos quais me excitaram como nunca na vida.

Seus movimentos leves e ao mesmo tempo agressivos em cima de mim fizeram com que eu perdesse a noção de meus atos, jogando-a na cama, deitada, prendendo-me em suas maravilhosas coxas. Ela gemia toda vez que lhe penetrava profundamente, e como se não bastasse, pedia para que eu lhe desse uns tapas. Providenciei para que ela recebesse muito mais do que pedira, puxando forte seu lindo cabelo loiro.

Encerramos completamente suados, parecendo dois animais famintos.

Estava exausto, mais uma noite de sexo viciante.

Estaria eu viciado em sexo?

Sabia que alguma compulsão tomava conta de mim, não sabia como definir, precisava dos conselhos de minha preciosa Olívia, que após sentir meu amor de forma tão carnal, acreditei estar disposta a enxergar e retribuir esse sentimento por mim.

Não entendi sua frieza, seu vocabulário vulgar, sua indelicadeza, essa não era minha Olívia, me senti decepcionado, mais uma vez, de forma que tal sentimento invadiu minha mente e meu coração dando a sensação de ter farpas de gelo me cortando aos poucos, de dentro pra fora.

Ira! Senti meu corpo ser tomado por esse sentimento e naquele momento meus olhos passaram de castanhos à fogo líquido.

domingo, 1 de junho de 2008

Em Busca de Olívia - Parte I - Daniel Pedrosa

Alta, magra, dona de seios fartos, que faria qualquer homem se perder completamente em apenas uma noite, olhos verde esmeralda, que reluziam ardentes como o verão e encantavam a todos. Foi assim que eu criei Olívia. A mais bela das personagens que já havia criado. O desejo tomava conta de meus dedos sempre que eu começava a escrever sobre ela. Olívia, a mais bela das putas. Como eu a desejava.

Apesar de ter escolhido viver uma vida casta, histórias sobre prostitutas, profissionais do sexo, putas ou seja lá como você as chamam, sempre me agradaram. E muito.

O que é proibido sempre atraí. É isso que dizem.

Escrever histórias sobre elas era apenas uma das formas de me libertar, de colocar para fora todos os meus desejos mais profundos e mundanos.

Mas aquilo já não me bastava. Quanto mais escrevia, mais aquele impulso infernal me tomava. "Em mim sabereis a verdade", dizia nosso salvador, após resistir bravamente às tentações de Satanás no vago deserto cinza. Eu queria tocá-la. Eu queria possuí-la, assim como todos aqueles personagens bastardos que eu havia criado o fizeram.

Procuro a minha Olívia desde então, todos os domingos, na página nove dos classificados, como se me atirasse na areia cinza do deserto das tentações, queimando minha alma em um inferno do qual não poderia escapar.

Há sete dias, encontrei um anúncio que descrevia uma dessas mulheres, exatamente como a minha Olívia. Seu nome era Vanessa, mas isso eu poderia mudar. Minhas mãos começaram a tremer e não pude resistir, liguei. Não me espantei com a facilidade de conseguir um encontro, logicamente, em um lugar escolhido por mim.

Fizemos sexo como se fosse a última noite de nossas vidas. Mas ela não era a minha Olívia. Era Vanessa. Apenas mais uma puta, vagabunda e mentirosa. Seus olhos verdes eram mais falsos que os seus gemidos de prazer. Sua pele era áspera e o seu perfume não chegava nem a ser uma imitação barata do que havia imaginado.

A envolvi suavemente em meus braços quentes, ainda suados. Ela sorriu mais uma vez, falsamente. Rezo a Deus que ela não tenha sentido nem uma dor quando torci o seu pescoço, em um movimento único e preciso, quase romântico. Ela não tinha culpa de não ser perfeita e pagou um preço alto por mentir. Não pude fechar seus olhos antes de queimá-los com seus próprios cigarros, um deles ainda aceso.

Junto com aquele cigarro, mais uma vida inútil havia se apagado.
Olívia nunca mentiria para mim. Nunca.

Liguei o rádio. Uma música melancólica começou a atravessar o meu coração como uma espada em brasa. As notas eram compatíveis com os movimentos do meu serrote, cortando e dilacerando, membro a membro daquilo que um dia fora uma mulher. Como era lindo observar as gotas de chuva caindo sobre o vidro da janela ainda embaçado, compatíveis com as gotas de sangue que escorriam por entre os meus dedos e pousavam suavemente na superfície lisa do assoalho.

A melancolia consumia meu corpo enquanto eu continuava a me indagar onde estaria a minha Olívia.

Será que eu a encontraria para contar em seus graciosos ouvidos as mais belas histórias? Como eu a desejava.

sábado, 31 de maio de 2008

Agulha de Salvação - Carta ao leitor - Jéssica Campos


Pessoal, é aqui se encerra mais um conto. Como disse no conto passado
o blog está cheio de surpresas e novidades.

Como vocês puderam perceber estamos deixando os contos um pouco mais fortes e mais chocantes, não só para dar ênfase ao título, mas para mostrar que a violência existe, por mais estranha e absurda que ela possa ser.

O Agulha de Perdição foi um conto inspirado após uma leitura machadiana. O sadismo é realmente uma coisa notável, mas ao mesmo tempo passa despercebida. Pessoas sádicas são mais comuns do que imaginamos. Agora se elas saem serrando pernas eu não sei. Hahahaha.

Quero muito agradecer ao pessoal que tem acompanhado meus contos e o blog, e quero avisar que preparei junto com um grande e querido amigo uma grande surpresa para nossos leitores.

Grande abraço, Jéh.

Não à violência, que ela não passe das páginas de um livro.

Agulha de Salvação - Parte VI - Jéssica Campos

O serrote passava rasgando tudo em seu caminho, músculo, pele, osso e até mesmo a corrente de sangue que o torniquete não conseguira segurar.

O osso havia sido serrado quase que completo, mas o rompimento do nó que prendia o torniquete não estava nos planos.

Na mesma fração de segundo, quando Nora quebrava com as próprias mãos o osso de Julia o nó se desfez.

O sangue jorrava vivido e brilhante. Em um minuto e meio a pequena Julia de sete anos, habitante do bairro sujo em que os Delle moravam, estaria morta pela escassez de sangue.

- Pet me ajude. Ela não pode morrer agora. Ainda não. - Disse Nora.

Ele não se movia. Continuava em sua poltrona, no seu ângulo imóvel, diria, se não fosse pela movimentação dentaria buscando pelo lábio a ser mordiscado.

- Levanta daí seu desgraçado e faça algo. Estou ensopada e minha blusa nova está ficando manchada com esse sangue.

Tão sereno como antes, Peter levantou-se calmamente olhando a menina ter seus espasmos e a mulher ensopar-se. Pegou a seringa que estava sobre a penteadeira e, como se uma música lírica tocasse no ar, ele deslizou até a cabeceira da cama.

- Calma pequena Julia. Vou te ajudar. - Disse Pet, calmo e gentil.

Com os olhos mais verdes que o comum passou a agulha pelo pescoço suado da menina. Por um momento pensou não ter cortado, mas o sangue escorrendo por sua garganta foi arrombando o fino corte, cessando suas dúvidas.

- Nossa... Essa foi realmente excitante. - Dizia Nora enquanto se limpava do sangue no rosto.
- O que fizemos? - Perguntou Peter. - Não era pra ser assim.
- Acalme-se. - Era notável a impaciência e indiferença na voz de Nora. Era apenas uma menina porcalhona.

Na manhã seguinte quando os pais de Julia vieram ao seu encontro, não acharam sua pequena e suja Julia Carter, e sim uma menina esturricada, gelada e sem perna, com um fino corte na garganta.

Os Delle? Com absoluta certeza deviam estar se estabelecendo em uma cidade qualquer, com um bairro sujo, cheio de pessoas pobres que necessitam da ajuda de dois advogados maravilhosos.

"Aqui jaz Julia Carter. Amada filha."

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Agulha de Salvação - Parte V - Jéssica Campos

Os dias foram passando e a perna não melhorava, pelo contrário, uma visível infecção instalava-se sobre a ferida ainda aberta. Nora havia retirado os curativos de Julia com o pretexto de que sua perna necessitava de ar fresco.

Nora e Peter pareciam lobos famintos em cima do ferimento, que começava a demonstrar os nervos saltitantes.

- Ela irá perder a perna se continuar assim. - Dizia Nora sem se mostrar aflita, mas sim um pouco falsa por fingir se preocupar com isso.
- Eu sei... Vamos poupá-la. - O sadismo era quase visível na expressão de Peter.

Talvez se Nora não estivesse tão compenetrada em sua farsa, poderia perceber tal detalhe.

Julia tinha um sono leve por natureza, agora com um ferimento que latejava, era quase impossível vê-la dormindo.

"Nada que uma picada não resolva."

Dito e feito. Apenas uma picada. A dor de Julia se resumiu a picada da agulha. Um remédio qualquer, comprado em uma farmácia qualquer de um bairro qualquer, foi sua salvação ou a sua perdição.

"Está parecendo um filme de terror."

E realmente parecia. A chuva parecia castigar a todos, trazendo consigo trovões que amedrontariam qualquer criança que não estivesse dopada.

Seria simples e rápido.

A melhor maneira seria fazendo um torniquete. Um bom pedaço de corda, bem apertado um pouco acima do ferimento. Um corte preciso e ela estaria salva da infecção que consumia sua perna.

Um serrote, panos e mais remédios caso ela sentisse dor.

Falar que foi algo simples é mentira. Nora teve que perder a delicadeza e colocar a mão na massa. Nem luvas, nem cabelos presos nem nada. Algo bem caseiro e amador.Do outro lado do quarto, em um ângulo bem pensado, Peter observava o esforço da esposa e a demência de Julia.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Agulha de Salvação - Parte IV - Jéssica Campos

Os machucados eram marcantes nas festas de Peter. O choro sentido da criança produzia um som agudo fazendo o ar ser preso nos pulmões, tendo que segurá-lo por uma quantidade de tempo até que considerável. A liberação do ar vinha com lágrimas grossas que desciam de uma vez até a boca, passando pela secreção que escorria do nariz, trazendo uma mistura salgada até os lábios.

- Oh! Você se machucou pequenina?

Com a dor de ter tido uma fratura externa na perna, Julia mal conseguia chorar, o que diria responder o que era óbvio.

- Não se preocupe pequenina, tio Pet irá cuidar de você. - Carinhosas eram tais palavras... Verdadeiras era outro quesito.

A pequena Julia, morena, de nariz empinado estava com seus olhos grandes e escuros como jabuticaba, cheios de temor e lágrimas. O sangue de sua pequena perna mirrada escorria entre o fêmur que havia se partido ao meio.

- Realmente isso deve estar doendo. Você ficará em minha casa até sua perna sarar.

A vinda médica demorou algum tempo, quase acarretando a Peter o dever de estancar o sangue, já que Nora estava ausente. Enquanto Julia chorava a mistura de terror e dor, Pet observava-a com um olhar sereno.

Mal podia se mexer, podendo relaxar seus nervos simplesmente com algumas gemidas, fazendo o sangue manchar todo o lençol onde estava deitada.

Após uma atadura porca e uma limpeza bem mal feita, José, grande amigo e médico da família, retirou-se da propriedade Delle, deixando apenas uma piscadela a Peter.

- Fique tranqüila pequena Julia, já conversei com seus pais e eles mesmos acham melhor você permanecer aqui enquanto sua perna está... Deformada? - Ria Peter - Brincadeira... Quebrada.

Aquelas palavras serviram apenas para o choro retornar à face infantil e ingênua de Julia, que mal sabia o que lhe aguardava.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Agulha de Salvação - Parte III - Jéssica Campos

Os pais inteligentes do bairro não ousavam questionar a fétida família Delle. Afinal Peter e Nora prestavam favores à comunidade.
Quando o pobre Delfino assassinara a mulher com uma garrafa de álcool e uma caixa de fósforos após descobrir sua infidelidade, Peter fora seu advogado e conseguira provar ao juiz a inocência de tal homem, alegando que sua esposa o havia atacado com uma faca.

"‘Meritíssimo tendo em vista as provas apresentadas neste tribunal, pode-se alegar que meu cliente agiu em defesa do filho e própria já que sua esposa mostrou-se mentalmente perturbada. ’

"Delfino olhava confuso para Pet. Não havia acontecido nada daquilo. Ele simplesmente chegara bêbado em casa, e após estuprar e espancar a esposa queimou-a.

‘Mentiras burocráticas meu velho não se preocupe. ’

‘Mas senhor... Não foi isso que... ’

‘É isso ou cana, velhote - Respondia Peter agressivamente. ’ "

As festinhas eram realizadas com a desculpa de presentear as adoráveis crianças por serem obedientes com o "tio" Pet.

Sem poderem dizer algo, os pais autorizavam seus filhos a participarem, e mesmo se não permitissem o próprio anfitrião ia buscá-las. E fazia questão de lembrá-los de alguns favores.

Pet não abusava sexualmente delas, muito menos Nora o fazia. O seu desejo por elas provinha de outro canal mental.

As festas dos Delle não eram totalmente seguras e como todas e quaisquer crianças que adoram brincar em festinhas, as daquele bairro não eram exceção. Grandes camas-elásticas sem rede de proteção com grandes e grossas molas ficavam à mostra e fazia parte do entretenimento das crianças. Os monitores que deveriam fiscalizar a utilização do brinquedo estavam ausentes, pois Peter dizia serem inúteis. Com a empolgação dos grandes saltos e piruetas, era fácil ocorrer um acidente.

domingo, 25 de maio de 2008

Agulha de Salvação - Parte II - Jéssica Campos

"Ela realmente sabe como provocar. Vadiazinha... Dar-lhe-ei o que merece."
- Venha Pet, deixe-me relaxar seus músculos.
- Claro querida, sou totalmente seu. - E com um movimento rápido e ao mesmo tempo brusco ele encaixou-a entre as pernas. Realmente não parecia uma posição amorosa ou algo do tipo, vendo que Pet estava prensando-a entre as pernas.
- O que está fazendo Peter Delle?
- Você acha que é assim? Depois de tudo o que fizemos tudo ficou fácil para você? Uma noite de sexo... Só isso?

Nora não queria falar sobre aquilo. Não agora. Havia passado a tarde inteira debruçada sobre uma maldita mesa de marfim, olhando papeladas burocráticas sobre os casos mais ridículos e inúteis do mundo, enquanto o idiota de seu patrão a observava e cobiçava descaradamente seu corpo. Estava na hora e ela sabia o que tinha que fazer. Isso era sempre rápido, afinal ele era um velho que mal se agüentava em pé. Esse era o preço da beleza... E das promoções.

Peter a virou de bruços e penetrou-a com muita força. Ao mesmo tempo em que tinha vontade de matá-la, amava-a. E como era parte daquela família contraditória, a maneira que demonstrava ambos os sentimentos era daquele jeito.

- Você me ama No?
- O que isso importa? - Dizia Nora sem ar em meio aos gemidos de cada investida do marido.
- Muito! Ama ou não?

Por um momento ele parou. Pensou no que havia feito com sua vida e com a de Nora.

Há um mês, eles eram o casal mais próximo do normal daquele bairro imundo e nojento. Passeavam de mãos dadas e sorrindo para todos.

Peter era um rapaz forte e alto. Tinha olhos verdes como de quem acabara de sair do inverno e adentrava em uma quente primavera.

Seu desejo paterno era visível. Adorava brincar com as crianças emporcalhadas e deformadas do bairro. Promovia várias festas infantis em sua casa, estas que Nora fazia questão de não participar, já que ansiava pelo corpo idealizado que a mídia expunha.

sábado, 24 de maio de 2008

Agulha de Salvação - Parte I - Jéssica Campos

"A corrupção se torna cada dia mais eminente. A justiça que tanto alegava possuir como prioridade a proteção social é uma das primeiras a se corromper."

- Hum... Quanta bobagem essa televisão transmite. Eu sou um exemplo nato no ramo da advocacia. Em toda a minha vida nunca coloquei um inocente na cadeia e tenho que escutar que a justiça está fraca.
- Falando sozinho meu amor? - A ironia era evidente em sua voz.
- Ah! Oi querida, não a tinha visto entrar. Como foi seu dia?
- Exaustivo. Não quero falar sobre isso. Venha, vamos fazer amor.

A família Delle era uma família contraditória. Possuíam uma bela casa na Rua da Perdição, que como o próprio nome já diz era uma perdição. Suas casas, com exceção da dos Delle, eram pobres e velhas. Janelas antigas, empoeiradas com o desdém da vida e da sujeira impregnavam na decoração urbana.

As pessoas não eram tão diferentes de suas casas. Algumas bem mais arrumadas usavam suéteres de lã. Em compensação, a miséria era um tanto quanto eminente naquela pequena parte do todo, que era a cidade de Montes.

A vizinhança tinha uma "afinidade" especial pela família Delle. Nora era uma mulher finíssima e suas sobrancelhas escuras denunciavam o falso loiro do cabelo curto e sedoso. A face era branca contendo um pequeno lábio vermelho. Era realmente linda. Porém, nem toda beleza é sutileza, e por mais fina que fosse Nora não era uma mulher sutil.

Como os Delle eram mais afortunados na questão social, procuravam ajudar aos vizinhos, pois qual bom advogado não faz mercado com os pobres vizinhos problemáticos e fofoqueiros?

Peter já havia cuidado de alguns casos na vizinhança. Alguns assassinatos básicos, matar ou morrer, como ele mesmo rotulava.
Havia colocado grandes bandidos na cadeia e em cima de tal fama construíra seu império vocacional, mas a verdade é que os bandidos eram quem eles, os poderosos, decidiam.

- Você não disse que estava exausta?- O que isso tem haver? - Dizia Nora enquanto se despia, deixando a vista seus fartos seios claros.