sexta-feira, 30 de maio de 2008

Agulha de Salvação - Parte V - Jéssica Campos

Os dias foram passando e a perna não melhorava, pelo contrário, uma visível infecção instalava-se sobre a ferida ainda aberta. Nora havia retirado os curativos de Julia com o pretexto de que sua perna necessitava de ar fresco.

Nora e Peter pareciam lobos famintos em cima do ferimento, que começava a demonstrar os nervos saltitantes.

- Ela irá perder a perna se continuar assim. - Dizia Nora sem se mostrar aflita, mas sim um pouco falsa por fingir se preocupar com isso.
- Eu sei... Vamos poupá-la. - O sadismo era quase visível na expressão de Peter.

Talvez se Nora não estivesse tão compenetrada em sua farsa, poderia perceber tal detalhe.

Julia tinha um sono leve por natureza, agora com um ferimento que latejava, era quase impossível vê-la dormindo.

"Nada que uma picada não resolva."

Dito e feito. Apenas uma picada. A dor de Julia se resumiu a picada da agulha. Um remédio qualquer, comprado em uma farmácia qualquer de um bairro qualquer, foi sua salvação ou a sua perdição.

"Está parecendo um filme de terror."

E realmente parecia. A chuva parecia castigar a todos, trazendo consigo trovões que amedrontariam qualquer criança que não estivesse dopada.

Seria simples e rápido.

A melhor maneira seria fazendo um torniquete. Um bom pedaço de corda, bem apertado um pouco acima do ferimento. Um corte preciso e ela estaria salva da infecção que consumia sua perna.

Um serrote, panos e mais remédios caso ela sentisse dor.

Falar que foi algo simples é mentira. Nora teve que perder a delicadeza e colocar a mão na massa. Nem luvas, nem cabelos presos nem nada. Algo bem caseiro e amador.Do outro lado do quarto, em um ângulo bem pensado, Peter observava o esforço da esposa e a demência de Julia.

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