O serrote passava rasgando tudo em seu caminho, músculo, pele, osso e até mesmo a corrente de sangue que o torniquete não conseguira segurar. O osso havia sido serrado quase que completo, mas o rompimento do nó que prendia o torniquete não estava nos planos. Na mesma fração de segundo, quando Nora quebrava com as próprias mãos o osso de Julia o nó se desfez. O sangue jorrava vivido e brilhante. Em um minuto e meio a pequena Julia de sete anos, habitante do bairro sujo em que os Delle moravam, estaria morta pela escassez de sangue. Ele não se movia. Continuava em sua poltrona, no seu ângulo imóvel, diria, se não fosse pela movimentação dentaria buscando pelo lábio a ser mordiscado. Tão sereno como antes, Peter levantou-se calmamente olhando a menina ter seus espasmos e a mulher ensopar-se. Pegou a seringa que estava sobre a penteadeira e, como se uma música lírica tocasse no ar, ele deslizou até a cabeceira da cama. Com os olhos mais verdes que o comum passou a agulha pelo pescoço suado da menina. Por um momento pensou não ter cortado, mas o sangue escorrendo por sua garganta foi arrombando o fino corte, cessando suas dúvidas. Na manhã seguinte quando os pais de Julia vieram ao seu encontro, não acharam sua pequena e suja Julia Carter, e sim uma menina esturricada, gelada e sem perna, com um fino corte na garganta. Os Delle? Com absoluta certeza deviam estar se estabelecendo em uma cidade qualquer, com um bairro sujo, cheio de pessoas pobres que necessitam da ajuda de dois advogados maravilhosos. "Aqui jaz Julia Carter. Amada filha."
- Pet me ajude. Ela não pode morrer agora. Ainda não. - Disse Nora.
- Levanta daí seu desgraçado e faça algo. Estou ensopada e minha blusa nova está ficando manchada com esse sangue.
- Calma pequena Julia. Vou te ajudar. - Disse Pet, calmo e gentil.
- Nossa... Essa foi realmente excitante. - Dizia Nora enquanto se limpava do sangue no rosto.
- O que fizemos? - Perguntou Peter. - Não era pra ser assim.
- Acalme-se. - Era notável a impaciência e indiferença na voz de Nora. Era apenas uma menina porcalhona.
sábado, 31 de maio de 2008
Agulha de Salvação - Parte VI - Jéssica Campos
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