segunda-feira, 19 de maio de 2008

A Resistência - Parte II - Renato Seabra

Outra noite. Outro homem passando pela rua espancando outra mulher. Uma visualizada pela janela e alguém prepara sua arma.

O prédio realmente parece seduzir muito os olhos tanto de ricos como de pobres. Não dá para entender como as pessoas mudam diante dele. E apesar de ser assim tão desejado como moradia, é um prédio com muitas vagas. São poucos os que podem pagar para viver lá. E isso forma quase a mesma quantidade daqueles que tem a coragem de perguntar os preços.

O atirador espera por uma chance. Assiste à cena, se diverte um pouco. Ouve alguns palavrões. Ouve alguns gritos. Mas não distingue muito bem sobre problemas sexuais e psicológicos que a mulher parece falar de seu marido. "Bom, mas por que isso importaria sobre ele, se ele está morto?". Ele engatilha. Aponta na janela. Mira corretamente. O cara parece estar parado. Aperta o gatilho. A bala percorre seu caminho, determinada. Perfura a cabeça do rapaz. Todos os atores, desde o atirador até a bala, cumprem seus devidos papéis que lhe foram concedidos e é mais um dia de uma morte justa e um trabalho bem feito.

Um pano vermelho é jogado pela janela.

A mulher se desespera, tenta chamar atenção de alguém, mas rapidamente sai correndo atrás de ajuda e some da vista de qualquer morador do prédio e provavelmente de qualquer morador da cidade acordado naquela hora.

Ligam para a polícia e eles demoram outra hora para chegar.

Outro corpo é levado sem saber os motivos da morte. Pelo menos é o que se parece.

Investigadores estão notando a precisão dos tiros e não acreditam que estão lidando com um novato. Eles confiam nos planos que possuem já em execução.

Há um homem no mesmo bar. Ele está vestindo um boné de jovem e roupas estranhas. Não se cuida muito bem. As garçonetes prendem sua atenção a noite toda, o que não é recíproco. Está bebendo muitas cervejas e fumando alguns cigarros. "Esse cara... Não muda mesmo" Alguém pensa.

Esse cara se chama Elias.

Uma mulher entra no bar com um vestido vermelho e longo. Ela é mais bonita que a de amarelo que se encontrou com ele vez passada. Mas esta está acompanhada de quatro amigas. Todas vestidas com pouca roupa e uma delas machucada no rosto, nos braços, nas pernas e nos seios. Sorte o cabelo estar apenas desarrumado. Eles conversam cochichando. Elias tenta ouvir algo sobre o que está acontecendo ali, mas não consegue. Olha para o garçom. O vê prestando atenção no grupo que se formou ali, mas está trabalhando sem tentar mostrar a curiosidade.

Elias dá um último trago em seu cigarro, bebe um último gole, e dá novamente outro último trago em seu cigarro. Uma última olhada no bar, no grupo, nas garçonetes, na porta e de volta nas garçonetes. Sai do bar e volta para onde mora.

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