sábado, 3 de maio de 2008

Mudanças de Vida - Parte IV - Renato Seabra

Kelly entra no bar. Bancos de couro, boa iluminação, um garçom no meio e garçonetes entregando alguns pedidos. E lá está o homem. "É óbvio que está escondendo alguma coisa" ela pensa. "Não tem como não saber que é ele" ela acredita.

Ela caminha até ele. Há um banco vazio. Senta diante dele. Eles se olham. Ela se senta um pouco incomodada por estar ali. Não quis dizer a Gabriel, mas ela nunca aparece por lá sem companhia. Foi por isso que ela perguntou a ele se seria "Chegar e falar" com ele. Porém, pelo pouco que ela observou não há nenhum perigo.

- É... - Tenta falar Kelly - É... Eu moro com um homem que...
- Sei. Seu marido te espanca.
- Hum! Isso... E quero que você...
- E quer que eu o mate pra você.
- É... Quanto... Quanto vai...
- Depende de como vai pagar. Mas isso nós podemos deixar pra depois.
- Como pode saber de tudo isso?
- Não devo essas respostas a você.

Kelly ouve atentamente o plano e o aceita. Não parece difícil.

Kelly, sozinha, sai do bar após uma hora e meia. Meia hora de explicação e uma hora de pagamento adiantado. Está muito escuro e poucas pessoas na rua. Sente muito frio. Tenta pensar em um lugar para passar a noite, mas não consegue pensar em nenhum outro senão a própria casa. Ela não queria voltar lá tão cedo.

Quando Elias acorda não sabe de muitas coisas. Parece ter perdido sua consciência, mais uma vez. Ele olha para os lados, reconhece onde mora, tenta perder a consciência novamente, mas não consegue. E em algum tempo se levanta.

Toma um banho frio. Prepara um café. Parece estar um pouco mais atento.

Senta em seu sofá, liga a televisão e lá, sem pretender, passaria a vida toda se necessário sem ao mínimo perceber sua decomposição. Morte declarada. Seu único movimento era mover o braço e as mãos para ascender um cigarro e fumar e depois ascender o outro. Fumar e ascender o outro. Fumar e ascender o outro...

Kelly chega lentamente a sua casa. Percebe que a porta está fechada e acha isso estranho, pois havia deixada aberta. Logo percebe que Elias está sentado, mas sem medo entra normalmente, como se nada houvesse ocorrido. Ela o vê ali naquele estado hipnotizado e começa a se trocar na frente dele. Lentamente Elias é atraído pelo som do zíper da calça de Kelly abrindo-se, acompanhado de alguns movimentos sensuais de seu corpo. Os estalos que ela força acontecer enquanto tira seu sutiã faz com que Elias fique um tanto curioso, mas parece ter perdido o interesse ao ver essa cena. Ela fica totalmente nua, ergue lentamente a perna, exibindo-a, soltando levemente a calcinha por entre os tornozelos e passa diante e bem perto de Elias movimentando suas curvas. Ele a olha, mas a despreza totalmente.

Kelly tentou nessa hora humilhá-lo, mas acabou se sentindo desvalorizada por um momento. Porém, como ela mesma já se desvalorizou há muito tempo, não fez tanta diferença. Pelo menos tudo isso foi o que passou pela mente dela. Pois Elias nem ao menos estava enxergando alguma coisa quando olhava para os lados. Totalmente inconsciente.
Sem mais o que fazer e morrendo de ódio e ansiedade, ela vai deitar-se. Sem mais o que fazer como durante toda a vida, ele continua por ali mesmo.

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