sábado, 17 de maio de 2008

Stella - Parte III - Paulo Costa

Stella nem ao menos se moveu. Nem ao menos respirou. Estava morta.

- Eu não queria que as coisas tivessem saído desse jeito... - Disse Carlos, com lágrimas nos olhos. - Você deveria ter me amado ao invés de procurar em outros braços, solução para os seus desejos. Eu estava lá. Eu sempre estava.

As imagens iam e voltavam na cabeça de Carlos. O barco virando junto com os dois. O frio cortando seus corpos. Stella lutando para permanecer na superfície, não que não soubesse nadar, mas lutando contra ele mesmo, Carlos, seu marido, que estava fazendo com que ela permanecesse submersa tempo suficiente para que esquecesse tais pensamentos e finalmente, parasse de respirar. Para sempre.

- Eu te amo, Stella. - Disse Carlos, mais uma vez, em meio a muitas lágrimas. - Hoje nos tornaremos um e finalmente viveremos eternamente juntos, como deveria ter sido desde o inicio. O meu amor por você é infinito.

Ao dizer estas palavras, Carlos levou sua mão direita até o bolso de sua camisa e puxou um pequeno pedaço metálico, refletindo todo o azul diretamente em seus olhos. Uma lâmina.

- Feliz... Nono... Aniversário... - Disse Carlos, respirando com dificuldade em meio a tantas lágrimas, levantando uma das mangas até o cotovelo.

Deitou-se sobre os seios de Stella e lentamente, fez o primeiro corte no pulso esquerdo, derramando sangue quente sobre estes, há muito tempo frios e já pútridos.

Carlos não gritou, nem ao menos sentiu. Estava fazendo tudo o que tinha planejado durante dias. A sua última prova de amor. Estava certo que Stella entenderia e o perdoaria. Cortou mais uma vez.

Sentiu cada um de seus sentidos se apagando, lentamente, um a um. Estava feliz, finalmente nada atrapalharia a felicidade dos dois. Nada.

- Stella... Eu te amo...

Então, Carlos sentiu as trevas engolirem os seus últimos sentidos, levando-o daquele mundo onde não poderia, em hipótese alguma, viver sem a sua amada.

FIM

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