segunda-feira, 12 de maio de 2008

Tradição de Matilha - Parte II - Daniel Pedrosa

- Não acha que está se preocupando de mais?

A doce voz de uma linda tigresa despertou a atenção de Arísis.

- Minha bela Iúna, não se pode brincar com certas coisas.
- Relaxe, em todo caso, ele é apenas um. E se realmente acontecer ele será banido.
- Que Gaia te ouça meu amor. Mas... Meu pai morreu pelas garras de seu melhor amigo, que se alimentara de humanos.

Iúna lhe lançou um olhar quente e acolhedor. Mas Arísis com seus olhos diferenciados, admirava os olhos de sua esposa, que o chamava para deitar. Como toda a matilha, Iúna possuía olhos azuis.

O amor naquela noite fez o líder Arísis, esquecer pelo menos por aquele momento, todos os problemas.

O sol havia se levantado a tempo, e o líder acordou com a voz de Manáz contando aos outros tigres sua sabedoria.

- Somos um ciclo! Todos conectados. Assim que um de nós partirmos, nascerá no filho do próximo. E assim por diante companheiros...

Quase nenhum tigre acreditava nisso, mas Manáz pregava piamente que estava se redimindo com Arísis.

Acreditava ter matado seu pai em uma vida anterior. O imponente líder não se importava com isso, pois com tudo, ganhou o melhor dos amigos.

- Desculpe acordar tarde Manáz. Poderia convocar a matilha para o treino de caça?
- Imediatamente senhor.

O treino de caça era antes de tudo, era uma arte. Todos se escondiam para pegar uns aos outros em uma cilada. Caso o alvo percebesse, poderia haver o combate corporal, porém este chegava apenas à imobilização.

O treino começou, e rapidamente a matilha já havia se separado armando suas emboscadas.

Dário se escondeu com talento, e de maneira astuta conseguiu ter Arísis em seu campo de visão.

"Vou provar que sou o melhor". Seu pensamento insistia em provar a todos quem venceria ao mesmo tempo em que lutava contra ele. Porém, um sentimento infernal, começava a tomar conta de si. "Vou avançar na garganta"... Preparou-se.

- Rorrr!

Dário estava deitado com Manáz em cima dele imobilizando-o.

- Hoje não é seu dia Dário. - Disse Manáz inocente e bem-humorado.

Dário procurou por Arísis, mas este não estava mais em seu campo de visão. Provavelmente o barulho provocado pelo ataque inesperado e inocente de Manáz o tivera espantado.

Dário olhou fixamente para Manáz, seus olhos continham uma fúria que somente o inferno felino pode presenciar, e um grande rugido de dor, em poucos segundos tomara conta da floresta...

Arísis ouvia aquilo, conhecia aquele som, aquela sensação. Seu único olho azul esverdeou-se, e isso acontecia apenas quando o caos estava por perto.

O medo, a apreensão, as lembranças do passado de quando presenciou a fatalidade ocorrida com seu pai, os olhos bicolores, um azul, um verde e a mudança repentina de cor ao sentir o perigo. Arísis disparou em corrida.

O cheiro de sangue aumentava. Sinal de batalha nas árvores... Um corpo ensangüentado no chão.


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