quarta-feira, 21 de maio de 2008

A Resistência - Parte III - Renato Seabra

Elias chega ao apartamento em que mora e observa a rua. Tira sua arma do bolso e parece estar se preparando para algum ritual.

Alguém está andando na rua! Ele olha assustado e atencioso. Mas é apenas uma família típica como sempre. Marido e mulher abraçados e filhos à frente. "Que hora mais perigosa para se ficar na rua, mas não tem outro jeito" Elias pensa, parecendo preocupado com alguma coisa.

Ele pega um cigarro, ascende e começa a fumar. Fuma um. Fuma dois. Dois maços. Pega um binóculo. Olha pra rua. Vê algumas pessoas andando na esquina do quarteirão e no meio, descendo a rua, um casal típico como todos os outros daquele bairro. Uma mulher sendo agredida por um homem. Elias se prepara pegando sua arma. Pega também seu celular e o deixa do lado, preparado para uma ligação para a polícia.

A mulher que está sendo agredida pelo homem consegue se defender, dando um tapa no rosto dele e, em seguida, o empurra para o chão. Nessa hora, aquele tiro certeiro, como todos os outros, não falha. Elias não esperava isso da mulher e que o tiro seria tão rápido. É muito difícil as mulheres reagirem na força. Rapidamente Elias liga para a polícia.

Ele então corre para o andar de cima do prédio. O atirador não deveria ter sido tão rápido e o plano de pará-lo poderia falhar e nunca mais haveria outra chance. Elias mora no oitavo andar. Arromba a porta da sala do nono andar. E no meio da escuridão total, está Benjamin ainda com a arma apontando para a janela e com um pano azul na outra mão. Benjamin se mantém calmo, ergue seus braços lentamente, mas sabe que não pode se mover muito, sendo que Elias está apontando sua arma para ele.
- Então... Era você o tempo todo? - Pergunta Benjamin.
- Sim... - Responde Elias. Você já sabia, não é?
- Claro. Apenas não te matei porque não queria levantar suspeitas.
- Está certo. Mas, acho que isso acabou pra você.

Tempo de silêncio e análise.

- Não acho que você seja um policial ainda.
- E não sou mesmo. Mas estou aqui os ajudando para te impedir.
- Estranho não querer me matar. Não seria melhor ou mais prazeroso? Entende algo sobre prazer?
- Como eu gostaria de me vingar mesmo do que você me fez aquele dia... Mas eu mudei. Você me ensinou como eu estava sendo idiota agindo daquela maneira.
- Sim, e ensino a muitos como você quase todos os dias. Além de ganhar para fazer isso.
- Não importam seus motivos. A polícia já está chegando e você será preso.
- Não serei preso. Pensa que eu não tenho saídas preparadas para essas situações?
- O que pretende fazer? Se você se mover...
- Deixe-me perguntar primeiro uma coisa. Tem testemunhas?
- É óbvio que sim. Combinei com uma família de ficar lá embaixo, fora da sua vista, para filmarem o ocorrido.
- Hum...Eu os vi descendo realmente há alguns minutos. Será que registraram certo?
- Como assim?

Celular toca.
- Elias falando...
- É o seguinte... Não foi Benjamin quem o matou...
- O que? Como assim não?
- É... É... - O policial do outro lado está também surpreso - A polícia chegou aqui e a mulher não fugiu ainda.
- Por que a mulher não fugiu?
- Ela foi detida... Não fugiu...

Elias fica em silêncio, apenas olhando para Benjamin.

- É complicado explicar. A polícia está subindo aí... Mantenha o Benjamin aí...
- Está... Está certo...
- E ai? - Falou Benjamin - Descobriu a verdade sem eu precisar falar então...?
- Você não vai escapar tão fácil dessa. Eles estão subindo.

A polícia chega. Benjamin permanece ali mesmo. Eles checam a arma. Não é uma arma. Elias vê o que é e não acredita. Levam Benjamin e mulher presos para serem interrogados.

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