quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Dívida - Parte III - Jéssica Campos

Horas se passaram, e Cátia permanecia imóvel, sentada na cadeira em frente à cama. Pensava em mil coisas. Em como iria viver após tudo aquilo, se teria coragem de matá-la e o que ela significava para si. Esperava a vadia despertar para começar com seu joguinho violento, que nem ela mesma sabia qual era, só sentia-o na veia. O seu corpo agia por conta própria.

No fundo Cátia não era assim. Mas ela precisava de muitas respostas e tinha medo. Assumiu uma pose que ela mesma não sabia de quem era, apenas recordava-a.

- O que está fazendo Cátia?
- Então você sabe meu nome? Que engraçado! Penso que você nunca o pronunciou antes. Dizia com palavras cortantes.
- Olha, não precisa se precipitar. Eu me descontrolei ontem, juro que não vai mais acontecer. Me solta agora... Filha.

Morete pronunciava tais palavras com tanta calma e doçura que por um momento quase foi solta.

Filha? Por que ela me chama assim? Cátia gravou tais palavras em sua mente que resolveu não parar até descobrir o mistério sobre sua vida.

- Vai velha desembucha.
- Desembucha o que menina?
- Quero a verdade sobre minha vida.
-Mas eu não estou te mentindo. Você é o pagamento de uma dívida e você é minha.
- Que dívida?

Um silêncio pairou sobre o ar. Ninguém falava. Em Cátia o medo de estar cometendo o maior erro de sua vida. E em Morete a dúvida sobre a verdade.

- É melhor você não saber de nada, pois só assim você vai conseguir viver. Escuta o que eu te falo.

Escute o que eu falo. A mente de Cátia girava, ela não conseguia mais raciocinar, estava exausta.

Com um impulso, pegou novamente a faca... Fincou-a na perna de Morete. Esta urrava de dor, sua agonia de estar amarrada e ferida era mais que óbvia. E só assim pode perceber que Cátia não estava brincando.

Há 18 anos Morete estava, nesse mesmo instante, dançando em uma balada qualquer. E em como toda festa beijou um carinha. O único problema era que esse rapaz não era qualquer um. E sim um traficante de baladas. O carro estava em alta velocidade, e o som de rap ecoava pelas ruas. O crepúsculo parecia lindo, e ela estava encantada com a vida. Alguns minutos se passaram e o carro parou em um beco. Lá a droga rolava solta, e a violência era eminente.

Sentaram-se em uma roda e lá ficaram fumando algumas pedras. O que parecia uma brincadeira de fim de festa se tornou um vicio.

Os anos se passaram e ela se endividou. Às vezes roubava de casa, na rua e até de igrejas para poder sanar um pouco de sua dívida. Mas uma proposta lhe foi feita, onde ela poderia pagar a dívida com o corpo. Morena, alta e magra, seios fartos e empinados, cabelos ondulados, Morete possuía um olhar gracioso e seu sorriso levava qualquer homem ao fundo da mente, se fantasiando com esta linda mulher.

- Eu não tinha muita escolha. Eu era muito jovem.

E realmente era mesmo. "Dar ou morrer", esse era o termo do contrato.

O tempo foi passando, e com ele surgiu mais drogas. A dívida só aumentava e o álcool se tornava uma fuga.

Era abusada sexualmente por vários homens. "Pague sua dívida", eles diziam. Cada vez mais acabada, magra, Morete ia ficando roxa devido às surras que levava.
Porém com o tempo ela se tornou uma mulher maldosa. Sentia prazer em fazer as pessoas sofrerem.

Mas o que ela não contava em sua vida, foi com o feto que se desenvolvia dentro de si.

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